continuando as perguntas…
por que os trailer americanos tem o centro de gravidade deslocados para a parte de traz, ou seja o(s) rodado(s) ficam bem para traz e no Brasil ficam praticamente no meio do trailer?
Essa é uma pergunta bem interessante e que nos fazemos a uns dois mil anos no mínimo.
Olha só que legal esse “trailer” chinês pintado por volta do ano mil, por exemplo:
Ele usa uma roda central, e isso aparentemente era bastante comum em carrinhos de mão na China antiga, e até hoje se encontram esses carrinhos de mão.
Qual a vantagem? O peso fica integralmente em cima da roda quando o carrinho está estável, ao invés de ser compartilhado em boa parte com o “motorista”.
Aqui uma versão moderna da mesma idéia:
Olha como eles exploram a idéia de peso na imagem.
Bom, então porque o carrinho de mão mais popular hoje em dia tem a roda frontal? A imagem acima responde também: estabilidade. Olha como eles já colocaram dois lados simétricos no carrinho deles, para poder usar duas pessoas quando necessário. Imagina empurrar todo aquele peso alí com a roda central e tentar segurar o carrinho sem virar.
Voltando então pra nossa realidade, as vantagens e desvantagens nos trailers são as mesmas. Com as rodas centrais era razoável puxar um Turiscar Imperial com seus mais de 8 metros com um Dodge Charger, como fez o Pedro Scheid em 1975:
Imagina se uma parcela bem maior do peso desse trailer estivesse no engate do Dodge. Acho que ele provavelmente ficaria em posição de decolagem.
E porque os estadunidenses optam por mover o eixo pra trás então? Basicamente, porque eles podem. As camionetes são baratas e grandes, muitas vezes parecendo um pequeno caminhão. Então a vantagem da estabilidade compensa.
Mas ainda assim, dependendo do trailer eles precisam instalar um sistema de distribuição de peso (“weight distribution hitch”) justamente para empurrar uma parcela maior do peso para a frente do veículo tracionador e aliviar um pouco o excesso de peso no engate, como nesse daqui:
Então, é uma relação de menor peso no engate vs. maior estabilidade.
Gustavo fiquei muito feliz com a explicação super completa, pois muitas vezes me perguntava qual era a diferença. mais uma vez, muito obrigado pela explicação.
Muito legal. Deve ajudar bastante na estabilidade.
A única desvantagem é que deve ficar mais difícil de manobrar de ré, já que a frente se torna móvel.
Aproveito para perguntar, o eixo dos turiscar (antigos) por exemplo, está bem no centro da “casa”? se contar a distância total até o engate dá pra ver que o eixo fica mais atrás do centro, porém tomando por base apenas a casa o eixo (trailer de eixo unico) está bem no centro?
Pois eu não sei dizer, Giuliano, mas podemos ter uma idéia olhando em fotos. Essa aqui é baseada em uma foto da Aline que está tentando vender o seu brilhante na OLX:
As medidas certamente estão erradas, mas dá pra ter uma idéia de que é bem central, possivelmente com alguns centímetros atrás do centro exato.
Ainda devemos pensar na distribuição interna dos móveis, eletrodomésticos e da tulha, além do peso da lança e a caixa sobre ela. Desta forma, acredito que se chegue à melhor distribuição do peso.
Verdade Miguel. Temos que tomar cuidado com isso independente da posição dos eixos, mas de forma ainda mais crítica com os eixos no centro por esses detalhes acima. Com a parte de trás do trailer “no ar” ela gira mais fácil, e consequentemente o tal do momento de inércia é mais relevante.
É fácil de entender o problema: a fórmula do momento de inércia é I = mr², onde m é a massa e esse raio é a distância do centro de massa do veículo. E o grande vilão é aquele ² alí, que quer dizer que conforme a gente afasta a massa do centro de massa do veículo, o momento de inércia sobe muito rapidamente. Ou seja, na prática não se coloca nada pesado nas pontas do veículo, e muito menos atrás no caso dos veículos de eixo central, porque essa parte gira mais fácil por estar no ar. Preferencialmente embaixo também, pois a final de contas esse momento de inércia existe tanto na horizontal quanto na vertical (yaw vs. roll, pro @dardo ).
O Gustavo uma vez explicou com um desenho que ficou muito fácil de entender tudo isso.
Buenas Ed,
Será que é dessa mensagem que trocamos em 2015 aqui que estás falando:
Uma forma que pode facilitar pensarmos a respeito do problema é imaginarmos que estamos segurando um cabo de vassoura carregando um peso. Com o peso na ponta (a) é muito mais difícil de começar a movimentar a vassoura e a parar de movimentar a vassoura (!) do que se o peso está mais perto da mão (b).
Com essas imagens acima é facil pensar que o problema é o centro de massa (ou centro de gravidade), mas exatamente o mesmo problema existe se deslocarmos o peso para as pontas, e centralizarmos a mão (o nosso “eixo”):
Por isso acredito que o problema é mais corretamente descrito como inércia de rotação (ou momento angular, ou massa angular, etc). Tanto no caso (c) quanto no caso (d) o centro de massa se encontra próximo da própria mão, mas a distribuição de massa é diferente, o que modifica a inércia de rotação.
A mesma lógica explica porque os bi-trens não sofrem tanto com o pêndulo: eles geralmente possuem dois pares de eixo em cada ponta, e com frequência tem uma distribuição bastante uniforme de massa (graneleiros, por exemplo). Seguindo a analogia, seria semelhante a agarrarmos a vassoura nas duas pontas (e). Essa analogia também torna fácil entender porque os 5a. roda sofrem menos com o problema do pêndulo. Se uma das mãos representa o eixo traseiro do veículo tracionador de um trailer tradicional, na verdade ela não estaria segurando o cabo de vassoura com o peso, mas sim uma extensão conectada ao cabo de vassoura, conforme caso (f). A outra mão segurando o cabo com o peso representa o eixo do próprio trailer. Um sistema onde essa extensão não existe certamente é mais estável.
Muito legal Gustavo, e muito fácil de comprender.
Mesmo sendo relativamente simples entender isto, por vezes encontro gente que se queixa de caso passar de 70 km/h, o Trailer começa “dançar” na estrada…e na imensa maioria dos casos, é por distribuir peso da maneira incorreta; no novo Turiscar, inicialmente tinham colocado a bateria na tulha interna traseira, e quando colocaram a segunda bateria, perceberam que tinha algo errado com a estabilidade do Trailer ao rodar… Foi só deslocarem as duas baterias automotivas para frente, e o problema foi resolvido.
Grande abraço Gustavo!
Dardo.
Pensando nisso também foi porque decidi botar duas caixas de água na frente do trailer. Elas quando vazias deixam o trailer muito “equilibrado”, ficando cerca de 45kg no máximo na lança. Daí consigo colocar até 180 litros de água no ponto central entre o eixo e o engate, aumentando assim o peso dianteiro conforme necessário.
É isso aí Edin, essa é uma excelente solução, pois deste jeito, você coloca exatamente o peso necessario que equilibra a distribuição do mesmo e determina o melhor ponto do CG; faço mesma coisa com o Guanaquito, já que o tanque duplo de 210 litros se encontra do eixo dianteiro para frente.
Lembro de jatos pesados que tinham um tanque de combustível extra na seção traseira, próxima da cauda, e ficava bombando o comb. em voo para manter o passeio do CG dentro dos limites…costumávamos falar brincando que o combustível “passeava” mais do que a gente no pernoite.
Abraços Edin!
Dardo.
kkkk! Sei que os Concordes não manobravam sem ajustar os tanques previamente também!