Hoje vou filosofar um pouco se me permitirem.
Uma das formas de se fazer uma vaga classificação do pessoal que gosta de sair com suas casas é relativo ao tipo de viagem que se faz. Há um grupo que gosta bastante de visitar os mesmos lugares, pois são opções seguras, sabidamente com infraestrutura satisfatória, em lugares agradáveis, e já com pessoas conhecidas que facilitam todo o processo. Por outro lado, há um segundo grupo que gosta de explorar lugares mais remotos, seja pela aventura, pela natureza, ou pela solidão, ou até o contrário, pelas amizades distantes.
No primeiro caso a autonomia energética quase nunca é problema, pois podemos facilmente fazer uma ligação com o carro para alimentar a geladeira durante a viagem, e se o percurso é conhecido, é fácil organizar a viagem de forma a fazer paradas estratégicas em pontos já visitados. Os destinos nesse caso normalmente são lugares de boa infraestrutura também, afinal de contas o local foi sabidamente escolhido, e energia não é problema.
Já o segundo grupo com mais frequência é surpreendido por situações inusitadas. Os lugares são seguidamente desconhecidos, a qualidade e a disponibilidade de recursos mais variável, e as viagens mais longas forçam paradas menos acomodadas. Esse grupo é fácil de reconhecer, pois conversa sobre placas solares, geladeiras 12V, e independência energética em geral, pois quer ter uma casa funcionando mesmo quando tudo mais vai contra.
Para esse segundo grupo, as soluções mais clássicas são os geradores e as placas solares. O gerador tem a vantagem da maior potência, o que possibilita utilizar até mesmo equipamentos mais pesados como os ar condicionados, e também tem a vantagem de funcionar em qualquer circunstância, faça sol ou faça chuva. Por outro lado, a conveniência e a paz das placas solares é inigualável. Elas funcionam sempre, mesmo durante a viagem, e com a potência adequada basta algumas horas de sol para garantir uma geladeira funcionando todo o dia e um bom descanso.
Bom, essa é a situação até agora, mas eu acho que em um futuro próximo a realidade da autonomia no campismo vai mudar bastante, e para melhor, pois os carros elétricos estão chegando para ficar. Isso é algo bastante óbvio mas que até recentemente não havia me ocorrido. Na verdade, embora as opções atuais sejam um pouco caras, já é uma realidade.
A Mitsubishi, por exemplo, é fabricante do veículo SUV híbrido mais vendido no mundo, chamado Outlander PHEV, capaz de carregar um reboque de até 1500kg. Essa sigla PHEV é utilizada por várias marcas com o significado Plugin Hybrid Electric Vehicle. Ou seja, é um veículo elétrico, pois tem dois motores elétrios que garantem o 4x4, e é híbrido porque tem também um motor a combustão para carregar as baterias e para aumentar o torque e a potência em situações de necessidade, e é plugin porque possui uma bateria um pouco maior e a possibilidade de se conectar o veículo na rede para carregar.
Isso muda tudo com relação a autonomia no campismo, por algumas razões. Uma delas é a capacidade da bateria: o modelo 2019 desse carro, por exemplo, tem uma bateria de 13.8kWh. Isso seria algo como 1150Ah em 12V, ou seja, umas 10 baterias com 115Ah cada, ou algo como uns 300kg de baterias chumbo-ácido. Pra dar uma ideia, com essa capacidade fica fácil fazer um acampamento de uma semana sem recarregar, ou então abusar e rodar um ar condicionado pequeno de 750W por umas 18h sem parar.
Outra razão é pelo gerador: como esses veículos lidam com grande capacidade de energia e grandes correntes, a capacidade do gerador interno que é característico dos híbrido plugins tem que acompanhar. No caso do Outlander, por exemplo, acredito que em torno de uma hora e meia do gerador funcionando com o veículo parado seja suficiente para carregar a bateria. Ou seja, alguns poucos litros de combustível e já vale mais uma semana de acampamento.
E isso tudo já funciona na prática. A versão 2019 do Outlander vai vir com uma tomada 220V no porta-malas, alimentada por inversor de 1500W ligado na bateria principal do veículo. O público em geral ainda está se acostumando com a idéia dos elétricos, mas para campistas que aceitem andar com um trailer dentro da faixa de peso tolerável pelo veículo, é um sonho. Um sonho caro, por enquanto, mas a tendência clara dos elétricos é se popularizar. Não vejo a hora.