Em uma espécie de “plágio” ao meu amigo Dardo, começo aqui o relato da primeira viagem que fizemos com o Chiocciolino à Mendoza, na Argentina, numa viagem de 30 dias em julho de 2018. Não poderia deixar de registrar em primeiro lugar que as dicas e apoio do amigo Dardo no planejamento e decurso da viagem foram primorosas! A riqueza de detalhes que se encontra no post “Primeira viagem do novo Guanaquito” pode ser tomada como referência para qualquer um que deseja se aventurar por aquelas paragens! Por este motivo, o nosso muito obrigado ao Dardo e Neiva pelos relatos e pelas belíssimas fotos que nos inspiraram a seguir em frente e não desistir de chegar lá!
Agora se faz necessário explicar o por quê de nosso trailer ter sido apelidado Chiocciolino… Parece uma tradição entre os trailistas apelidar suas casas rodantes com apelidos carinhosos ou que representam algo em sua vida. No meu caso, por ser filho de pai e mãe italianos, resolvi apelidá-lo de Chiocciolino, derivado de chiocciola, que significa caracol em italiano. Caracol porque é um dos animais que carrega a casa sobre as costas. Chiocciolino não existe na língua italiana… foi uma forma de tornar o nome mais original. Para ajudar na pronúncia, leia-se “kiotiolino”!
Viagens sempre me inspiraram, desde moleque. Talvez por ter viajado pouco quando pequeno, e raríssimas vezes com meu pai, 55 anos mais velho e que não era muito adepto a sair de casa, sempre muito preocupado em não faltar nada na criação de seus 9 filhos. Quando bati asas e segui com as minhas próprias pernas, comecei a viajar mais e aos 26 resolvi ousar um pouco e fazer uma daquelas que podemos classificar como uma grande aventura: um giro sozinho pelo Cone Sul num Gol 1000 16V. Isso ocorreu em 2004, num percurso de 12.500km em 30 dias (Clique aqui para ver fotos desta viagem). Tomei gosto pela coisa e percebi que essa vida errante seria um dos meus nortes.
Estrada entre Susques-ARG e San Pedro de Atacama-CHI… era de rípio na época!
Divisa Argentina-Chile - Deserto do Atacama
Antofagasta/Chile
San Carlos de Bariloche/Argentina
A ideia de adquirir uma casa rodante, mais propriamente um motorhome, começou a partir desta viagem, após me deparar com um daqueles off-road europeus tipo Paris-Dakar que estava ancorado no Camping Paudimar em Foz do Iguaçu-PR. Achei fantástica a possibilidade de carregar a própria casa nas costas. Na família, não temos tradições campistas, seja com barracas, seja com trailers ou motorhomes. Isso não é empecilho, mas torna as coisas um pouco mais complicada, pois começam a te tachar de maluco!
Motorhomes off-road europeus que estavam no camping de Foz do Iguaçu-PR
Em 2008, após meu casamento em junho, decidimos passar a lua-de-mel em Mendoza, mas não da forma convencional. Resolvemos ir de carro. Dessa vez, o VW Gol tinha sofrido um upgrade… agora era um motor 1.6! Esse percurso foi de 10.500km, também em 30 dias. Apesar de o alvo ser Mendoza, alcançamos ainda Santiago no Chile, passando pelos Caracoles em pleno inverno da Cordilheira. Minha esposa tomou gosto pelas longas viagens também e começamos a aventar a possibilidade de, a longo prazo, adquirirmos um motorhome (MH).
Paso Los Libertadores - Divisa Argentina/Chile
Vinícola Cousiño Macul - Chile
Estrada para Farellones - Santiago/Chile
Colônia do Sacramento - Uruguai
Essa ideia começou a tomar força e em 2010 resolvemos alugar um na Europa para sentir o clima de utilizar este tipo de equipamento em viagens. Na verdade, o objetivo dessa viagem era proporcionar o retorno de minha mãe à Itália, depois de 60 anos sem sair do Brasil. Ela deixou a Itália com os pais aos 17 anos, depois dos horrores da Segunda Guerra. Apesar de ter tido oportunidade de retornar à terra natal, nunca se empenhou em fazê-lo, talvez em razão de meu pai não se animar tanto.
O aluguel desse MH seria uma espécie de laboratório para nós, antes de investirmos em algo assim! E como era de se esperar, nos apaixonamos pelo estilo e reforçamos a ideia de adquirir um. Fizemos um giro de 6.000km por 6 países da Europa, aportando em diversos campings com estrutura invejável. São, sem sombra de dúvida, os maiores entusiastas do campismo no mundo. Esse roteiro também tomou 30 dias.
Alugando o MH em Milão - Camper a Milano
Camping em Luzern/Suiça
Camping em Courteay, perto de Paris/França
Camping na Alemanha
Camping em Viena/Austria
Palácio da Imperatriz Sissi - Viena/Austria
Desde esta viagem, decidimos poupar para investir um equipamento deste. Sabíamos que teríamos que ter paciência e disciplina para conseguir, haja vista que é um investimento considerável para nossa realidade financeira. Em 2012 chegamos a viajar para o Rio Grande do Sul para conhecer algumas fábricas e definir nosso objetivo. Conhecemos, dentre outras, a fábrica da Santo Inácio Motorhomes em Gramado-RS e nos admiramos com a qualidade dos veículos fabricados pela empresa. Não cogitávamos a compra de um trailer, uma porque não se falava muito em trailers depois da quebradeira geral das fábricas deste tipo de veículo em razão da exigência do Código de Trânsito Brasileiro em possuir CNH categoria E para condução deles e outra porque não tínhamos conhecido ninguém que possuísse um rodando. A ideia do trailer nunca esteve na nossa cabeça.
Em razão do alto valor dos MHs, nosso planejamento para adquirir um começou a se dilatar muito. Porém, em julho de 2016 assistimos a uma reportagem sobre o relançamento dos trailers Turiscar, ícone das décadas de 70/80 até para os leigos no assunto. Começamos a pesquisar sobre o veículo e nos engraçamos por ele, após analisarmos os prós e os contras entre MHs e trailers. Descobrimos que passaram a ser fabricados pela Santo Inácio, fábrica que já conhecíamos e isso nos despertou ainda mais o interesse neles. Como vantagens, além do valor de investimento muito mais em conta que um MH, os usuários de trailers contam com o veículo rebocador para os passeios ao redor do camping. Como desvantagem, o deslocamento rebocando um trailer é muito mais trabalhoso que com um MH.
Em setembro de 2016, fechamos negócio com a Turiscar (mesma fábrica Santo Inácio) para aquisição de um modelo 6.5, que ficaria pronto em junho de 2017. Apesar de ser necessário entrar numa fila de espera para botar a mão em um, esse longo prazo foi acordado com a empresa em razão das nossas possibilidades financeiras.
Abaixo o passo-a-passo da construção do trailer na Turiscar, de março a junho de 2017:
Como combinado com a empresa, buscamos o trailer em julho de 2017, após uma espera ansiosa!
Ansiosos por ser nosso primeiro veículo deste tipo! Ansiosos por entrar para um clube de pessoas que buscam liberdade e contato pleno com a natureza! Um verdadeiro estilo de vida!
Nossa estreia com o Chiocciolino ocorreu nesse retorno para Goiânia, onde moramos. Mas não considero esta viagem de volta como a primeira. Para nós, a viagem para Mendoza foi a primeira, em razão de todo o processo preparatório que envolveu, incluindo aqui as dicas preciosas do Dardo! Infelizmente, dependemos dos nossos períodos de férias para viajar com o trailer e por isso ele ficou praticamente parado de agosto de 2017 a junho de 2018. Um crime, mas… é a realidade!
Primeiro acoplamento, em frente a Turiscar em Gramado-RS
Primeiro dia no camping, em Gramado, para testar os equipamentos
Parada no camping da Lagoa da Conceição em Florianópolis-SC, levando o trailer pra casa
Posto Graal em Uberaba-MG… quase lá!
Na porta de casa pela primeira vez
Bem… depois de um breve histórico que descreve como tudo começou, vamos aos fatos! A preparação da viagem tomou alguns meses, afinal é muita responsabilidade rebocar uma jamanta dessas para um outro país, por tantos quilômetros, com os dois filhos pequenos no carro e num período de inverno. Não classifico isto como loucura, como muitos dizem, pois tinha feito esta viagem por duas outras vezes, mas considero uma aventura que precisa ser feita com responsabilidade, pois a vida de outras pessoas estavam sob minha tutela. Por isso, me dediquei nos meses que antecederam a viagem a pensar em todos os detalhes que pudessem me colocar em check e pudessem dar um revés, estragando nosso passeio. Colocarei aqui alguns detalhes desta preparação que foi realizada, mas sugiro aqueles que desejam fazer o mesmo no inverno, que estudem bem as dicas do amigo Dardo em seu post, pois elas fazem toda a diferença quando se trata de acampar com trailer no frio. Não terei a capacidade de passar aqui tantas informações detalhadas como ele.
A primeira coisa que pensamos foi qual roteiro faríamos. Depois de várias possibilidades estudadas e pela necessidade de passarmos em Gramado-RS na ida ou na volta para revisão do trailer, que no mês da viagem completaria 1 ano, optamos pelo seguinte roteiro:
Optamos por passar em Gramado para a revisão na viagem de volta, pois assim aproveitaríamos para colocar no lugar alguma coisa que viesse a se danificar durante a viagem. Definido o roteiro, nossa preocupação passou a ser como lidar com o frio de Mendoza e qual o comportamento do trailer frente a este frio que estaria por vir. A primeira e fundamental dica passada pelo Dardo: cuidado com o sistema elétrico argentino. Apesar de ter voltagem 220 como parte do Brasil (incluído Goiânia), a frequência da energia é de 50Hz, diferente do Brasil que é de 60Hz… isso prejudica equipamentos como microondas e principalmente o ar condicionado, que no caso do novo Turiscar é um inverter quente/frio. Isso já era um fato para se preocupar, pois não poder usar o aquecedor no frio de Mendoza já começava a deixar as coisas mais difíceis. Por isso, essa dica foi fundamental. O Dardo recomendou que comprássemos um aquecedor de ventilação forçada assim que entrássemos na Argentina. Desse modo, o equipamento estaria na frequência correta e assim não precisaríamos utilizar o ar condicionado do trailer (uma pena, mas é o que poderia ser feito).
Esse é o aquecedor de ventilação forçada que adquirimos na Argentina… falaremos dele um pouco mais a frente, pois mereceu destaque na viagem
O ar condicionado poderia ser utilizado com o gerador do trailer, uma outra opção. O problema era o inconveniente barulho produzido, o que poderia incomodar outros campistas acampados e nós mesmos, durante a noite, por exemplo. Com base nisso, comecei a pesquisar por caixas atenuadoras de ruído para geradores. Os gringos são mestres nisso. Encontrei uma ideia legal, desenvolvi o projeto e comecei a construção de uma caixa dessas. O resultado obtido segue nas fotos abaixo:
Os orifícios superiores são para entrada e saída forçada de ar, por meio de coolers. O orifício inferior é para exaustão dos gases do escapamento do gerador
As paredes foram revestidas com lã de rocha, para isolamento acústico
Atenuador depois de pronto. Redução excelente do ruído.
A ideia do atenuador foi em razão de ter mais uma opção para o caso de problemas com a energia argentina. A caixa ficou um trambolho, confesso! Mas como teria espaço de sobra no carro para carregar, não exitei em construí-la. Se querem saber se utilizei a caixa algum dia, a resposta é não! Mas o intuito era esse mesmo. Ter alguma coisa que pudesse me acudir no caso de necessidade. Bom que não precisei!
Continuarei em breve, relatando a viagem em si! Por enquanto foi só blá-blá-blá!