Obrigado Marcelo!
Bem, conforme prometido tanto tempo atrás, finalmente continuo com o relato; para quem está começando a ler este meu relato e não atentou para o que já escrevi no início do mesmo, quero lembrar que todo o que está escrito aqui, é de minha modesta opinião e vivência, e por favor, quem se sentir agredido de alguma forma pela minha maneira de me expressar, sinta-se à vontade de esquecer do mesmo, pois sei que não sou dono da verdade, e sei também, que ainda tenho muito que aprender.
Feita a ressalva, vamos ao que interessa:
Devagar, fomos deixando Las Loicas para a popa do Guanaquito, e começamos a subir a Cordilheira…um misto de alegria de estar na estrada de novo após um mês parados, se somava com já a saudade do lugar…eita, como essa dualidade Kantiana convive em quase harmonia com a gente!
Lentamente, passamos pelos locais onde caminhávamos quase todos os dias, e acelerando a Frontier, avisamos para o Guanaquito que sim, estávamos na estrada de novo; aos poucos, fomos chegando na região onde tinha neve, embora fosse somente nas laterais, já que o asfalto estava limpo, e em parte pela subida e em parte para poder melhor tirar fotos, fui reduzindo um par de marchas no rebocador, embora o Guanaquito nem toma-se conhecimento das curvas fechadas da estrada, graças ao seu aprimorado equilíbrio dinâmico.
Na pole-position da Aduana Argentina…afinal, estávamos na fila a 31 dias…
Chegando na altitude da neve.
Chegando na divisa de ambos países.
Na divisa exata entre Argentina e Chile.
Mais uma da Frontier na fronteira, com o Guanaquito roubando a cena…
Quando chegamos no topo da estrada, exatamente na divisa de ambos países, paramos, claro, para tirar fotos do acontecimento, que para nós tinha um gosto especial, pela demora em alcançar este objetivo que tanto dias imaginamos quando da nossa espera em Las Loicas… olha, se não fosse o local estreito para parar, nem o vento que deixava a temperatura alguns graus abaixo de zero, era para estourar um espumante (que por acaso tínhamos na bodega do Trailer)…afinal, com certeza estaria “estupidamente” gelado!
E quando estávamos lá, festejando esta pequena-grande conquista, quem aparece? Sim, os heróis que vestem lycra! Pararam para tirar fotos também, e demos um último “até logo” para estes simpáticos irmãos de estrada!
“Santa caravana, Batman! …Sossega, Menino Prodígio, é o Guanaquito!”
Os “heróis” indo embora… e agora, quem nos defenderá?
Bem, após a sessão de fotos e frio, começamos nossa descida em direção para a distante alfandega do Chile, a pouco mais de 20 km de distancia; no caminho antes da aduana, vimos a razão da demora em abrir o Paso del Pehuenche…neve de mais de 7 metros de altura margeando a estrada…e o pior, com o vento e o frio, a neve virou um bloco de gelo, extremamente duro para ser retirado da estrada, o que ocasionou a demora em abrir a estrada para o tráfego internacional entre ambos países.
Paramos bem rápido para as fotos, com um pouco de temor duma avalanche repentina, embora, como já mencionei antes, a neve era na realidade um bloco uniforme de gelo…dava para fazer uma caipirinha e tanto!
Na Ruta 115.
O Campistas.net no gelo, literalmente.
Neve na beira da estrada do lado Chileno.
As curvas da Ruta 115.
Bota neve nisso!
Parte da Laguna del Maule, onde debaixo dela tem um vulcao.
Altura da neve na lateral da estrada estimada em 7 metros.
Continuamos a descida devagar, atentos ao possível gelo no asfalto, que é muito perigoso, já que muitas vezes a gente nem visualiza direito o mesmo, e mais uma vez, o Guanaquito foi muito estável…ali pude ter certeza que é bem construído, com um chassis muito bem feito, que me transmitia muita segurança, principalmente quando esquecia das curvas e imprimia maior velocidade, deslumbrado pelas paisagens… e mesmo com vento lateral, ainda bem que não forte demais, mas com o agravante de ser de rajadas quando saíamos da proteção da encosta da montanha, o Turiscar se manteve firme, transmitindo segurança; obviamente, pelas características da estrada, a descida foi com o ATC ligado conforme lógica e necessidade do caso, embora não chegou atuar em nenhum momento, atestando, mais uma vez, a excelência dinâmica do Trailer, e também da Frontier, uma verdadeira guerreira.
Claro que paramos para tirar mais fotos, porque era tanta beleza para admirar, que tínhamos que fotografar, para assim de tempos em tempos ver novamente, e reviver na memoria este acontecimento…além é claro, de compartilhar com a turma do Campistas.net que está viajando junto com a gente, mesmo que virtualmente.
Em tempo: na chegada em Curitiba, conferimos que a viagem rendeu pouco mais de 14.000 fotos…acho que exagerei um pouquinho…
Aos poucos, a neve nas laterais da estrada foi ficando mais rala, e pouco antes da alfandega do Chile, paramos num local com vista para a Laguna del Maule para almoçar, pois tínhamos que consumir alguns alimentos que não seria possível passar pela Aduana, e assim, liguei o gás do botijão (que sempre viaja fechado,claro) e almoçamos uma gostosa comida quente com vista para a Laguna e as montanhas, quentinhos dentro do Turiscar (lá fora, quando saímos da Frontier para entrar no Trailer sentimos um pouco de frio por causa do vento que baixava a temperatura externa por volta de -3 C), felizes e gratos de ter completado uma etapa importante da viagem.
Laguna del Maule.
Parada para almoçar.
Outra vista da lagoa, com parte dela congelada.
A vila onde se encontra a Aduana de Chile no Paso del Pehuenche.
Mais uma do local do almoço.
Na Aduana de Chile; 3ro. País alcançado pelo Guanaquito!
Mais uma da Aduana.
Descendo a montanha, beirando o rio Maule.
Aos poucos, a vegetação aparece, com cachoeiras fruto das neves da montanha.
Comboio na Carretera 115, de Paso del Pehuenche para Talca.
Já concluindo a descida da cordilheira, nos maravilhamos com o verde novamente.
Carretera 115, estreita, porém muito linda.
A passagens pela Aduana do Chile foi tranquila, embora com uma revista caprichada do pessoal, que foram muito simpáticos, e como éramos os únicos naquela hora ao cruzar a dita alfandega, o pessoal estava de bom humor, só fazendo questão de reclamar que tínhamos sido cruéis com eles…??? Dai eles me lembraram que fazia poucos dias, a seleção do Brasil tinha ganhado do Chile pela eliminatórias da Copa, deixando eles fora da Russia…Neymar? Quien es Neymar? No, yo no lo conozco…
Também teve um momento de surpresa pelo simpático pessoal que efetuo a revista na Frontier e no Turiscar; eles acharam esquisito eu levar tanto vinho (só 18 garrafas!) de Malbec de Mendoza, acha visto, segundo eles, que o vinho do Chile era melhor do que o da Argentina… acho que nem eles mesmo acreditaram nessa!
Bem, após fazer a imigração e com tudo pronto, vamos continuar a descida, de maneira mais suave agora, acompanhando o desenho do rio Maule, numa estrada muito pitoresca e em bom estado em geral, salvo alguns poucos buracos perto da alfandega, e em diversos lugares, um pouco estreita para passagens de 2 veículos grandes, com pouco ou nenhum acostamento, especialmente a primeira parte da descida em direção à Ruta 5, a famosa Panamericana; na medida que descíamos a montanha, a paisagem ia se tornando mais e mais verde, com a vegetação fruto da umidade do Pacifico que se represa na cordilheira; é por isso que do lado da Argentina, aquela região sem a umidade do mar é tao árida…um belo contraste, com as belezas próprias de cada região…
A ideia era cortar caminho por Linares, e assim o fizemos, saindo na Ruta 5 por aquela cidade; aviso aos Rodo-Navegantes: considerem a possibilidade de continuar direto pela Ruta 115 até a Ruta 5, perto de Talca, que mesmo que com um percurso mais longo, evitam passar por várias cidadezinhas com bastante tráfego.
Bem, saímos na Ruta 5, e embora com pedágio, é muito bom rodar numa rodovia duplicada como essa, com o comboio rodando na velocidade de cruzeiro máxima permitida de 90 km/h (via GPS), o que nos permite naquele dia, percorrer uma distancia de aproximadamente 390 km totais, o que foi bastante proveitoso, já que tínhamos cruzado uma cordilheira e dois países.
Percurso do dia:
Eu estava na duvida de pernoitar num posto da Ruta 5, ou nos estacionamentos dos Carabineros, a Policia do Chile; a vantagem nos postos é a de ter loja de conveniências por perto, e eventualmente, água e até luz, embora mais difícil, ou então, a tranquilidade e segurança dos Carabineros…bem, optei pela última, e parei num Retén de Carabineros em Salto del Laja, onde estacionei o comboio na frente, e fui pedir permissao para passar a noite; fui muito bem atendido, e o policial me explicou que muitos caminhoneiros decidem passar a noite por lá, especialmente quando transportam cargas mais valiosas, e embora não tenha nem torneiras nem luz no estacionamento, possuíam um banheiro que poderíamos utilizar si assim o desejássemos. Agradeci a gentileza, satisfeito de que o nosso Trailer tinha tudo o necessário, e fiquei feliz de ter um pouco de água no tanque, o suficiente para um par de banhos rápidos; liguei o gerador para carregar as baterias, funcionar a geladeira e também o aquecedor de passagem, e depois de banho tomado e de degustar uma janta com Malbec, of course, saí na noite levemente fria para desligar o gerador, e perceber que já tinha em volta da gente uns 7 ou 8 camiões, com seus motoristas se preparando também para o pernoite.
Ufa! Foi um dia cheio, especialmente para quem estava fazia um mês parado sem rodar…bem, vamos dormir, que amanha continuamos a viagem; abraços!
Dardo.
Continua///